quinta-feira, 19 de março de 2009

Algumas considerações sobre o uso de softwares na Educação Infantil

Algumas considerações sobre o uso de softwares na Educação Infantil

Cada dia mais vem se desenvolvendo a indústria do software "destinado à Educação Infantil. Por incrível e contraproducente que pareça, o mercado está inundado de programas dito educativos, destinados à crianças de 18 meses ou até menos!
Uma grande parte dos produtos comerciais possuem características muito heterogêneas, muitos são traduções de outros idiomas, sem adaptações às características de nossa realidade; outros ainda, limitam-se a utilizar algum personagem da televisão ou cinema, de sucesso entre as crianças pequenas.
A primeira tarefa é a identificar a concepção teórica de aprendizagem que está subjacente a ele, pois, para que um software seja educativo, deve ter sido concebido segundo uma teoria de como o sujeito aprende, de como se apropria do conhecimento.
Mesmo sem levantar a questão da necessidade, conveniência ou não desse uso, já que não é o objetivo principal desse artigo, a pergunta que devemos fazer é " podem esses programas ser chamados de educativos" em que vão poder ajudar para que os objetivos educacionais sejam atingidos, a aprendizagem que se adquire com seu uso pode ser transferida para outras instâncias educativas ou situações da vida real? Na escola, cabe ao professor em conjunto com a coordenação pedagógica e àqueles que trabalham com informática aplicada à educação determinar os "supostos benefícios" do material.

Considerações
Apresentação do produto:
O primeiro cuidado é não se deixar envolver pela apresentação do produto. A utilização de frases de impacto, cores vistosas, descrições que lembram contos de fadas, não passa logicamente do uso dos ditames da publicidade, pois são postos no mercado para vender e bem !
Indicação para faixas de idade muito amplas:
Não confundir o fato de que um bom programa educativo deve ser adaptável a diferentes níveis de desenvolvimento com aqueles que apregoam usos por crianças na faixa de "2 a 7 anos". Em muitos casos o que vai se encontrar é que o software não foi construído para nenhuma idade determinada, pois se o fosse, seria praticamente impossível abranger atividades que estivessem de acordo e fossem interessantes para uma faixa tão ampla de idade.
Identificação da Modalidade do software:
exercício e prática
jogos
simulações
hipermídia
tutor inteligente
outra: qual?
Aspectos pedagógicos:
O software contempla aspectos motivadores?
Procure identificar quais dos aspectos citados abaixo são enfatizados pelo software:
memorização de conteúdos
atenção / concentração
pensamento lógico
resolução de problemas
combinação de vários aspectos
Qual o tratamento que é dado ao erro? Permite que a criança aprenda com seus erros ou apenas verifica se alguma coisa "passada" pelo professor foi assimilada?
Permite a intervenção do professor como agente de aprendizagem, ou seja, permite a intervenção do professor ou se apresenta como autônomo? Se o software apresentar-se como autônomo, prescindindo do professor, da interação com os alunos, como sendo adaptável a qualquer realidade e situação sem a necessidade do professor, tem como fundamento o ensino programado, no qual a padronização "promove o ensino" de qualquer conteúdo, sem nenhuma problematização.
Quais os níveis de atividades que predominam no software?· Seqüenciais- as atividades procuram apenas transferir informação? Nesse caso, o objetivo é apresentar o conteúdo para que o aluno memorize, de modo a poder repetí-lo.·Relacionais- Procura a aquisição de determinadas habilidades, permitindo que o aluno faça relações com outros fatos ou outras fontes de informação. A ênfase é dada ao aluno e a aprendizagem se processa somente com a interação entre esse e a tecnologia.·Criativo, Aberto- Associado à criação de novos esquemas mentais, possibilita a interação entre pessoas e tecnologias compartilhando objetivos comuns, levando a um aprendizado participativo. Normalmente estes softwares permitem modificações e adaptações de acordo com as necessidades do professor.
Em relação ao conteúdo:
verificar se apresenta algum tipo de preconceito religioso, racial ou de sexo;
apresenta condutas violentas ou promove atitudes contrárias aos valores do projeto educacional da instituição onde vai ser utilizado?
o conteúdo é adequado e atrativo à idade a que se dirige o programa?
apresenta múltiplos caminhos para a solução do problema?
apresenta diferentes alternativas de uso para que não se torne cansativo para o aluno em pouco tempo?
trata de temas que não fiquem obsoletos em curto prazo?
os conteúdos e as atividades respondem às necessidades de ensino- aprendizagem dos níveis e áreas do conhecimento a que se dirige?
Aspectos técnicos:
as telas são bem diagramadas?
os recursos de animação são de boa qualidade?
os recursos de som são bem utilizados?
o tempo de resposta é satisfatório?
todas as opções estão implementadas?
as instruções são apresentadas claramente?
apresenta help-desk?
contém material de apoio para o professor?
pode ser utilizado em rede e em conjunto com a Internet?
é compatível com o hardware da instituição?
apresenta recursos de hipertexto e hiperlink?
qual a mídia utilizada?
Vemos que avaliar um software para uso educativo exige muito mais do que conhecimento sobre informática exige conhecimentos sobre as teorias de aprendizagens, concepções educacionais e práticas pedagógicas, técnicas computacionais e reflexões sobre o papel do computador, do professor e do aluno no contexto educacional.
Muito do que escrevemos neste texto aplica-se a qualquer tipo de software educativo, não só aos destinados à Educação Infantil. Mas, como pretendemos escrever outro texto mais detalhado sobre software para outros níveis de ensino, optamos por colocar esse título.
Como sua instituição está avaliando o software que utiliza? É importante que conscientizemos as instituições e seus educadores que a escolha de software educativo está intimamente relacionada à proposta pedagógica que é desenvolvida. Se a instituição não estiver atenta a todos esses fatores, está usando o software tal como o livro didático, que muitas vezes não tem nada de educativo, além de gastar muito dinheiro que nada vai acrescentar aos seus propósitos pedagógicos.
Bibliografia:
SEABRA, Carlos - Software educacional e telemática: novos recursos na escola
SILVA , Dirceu - Informática e Ensino: visão crítica dos softwares educativos e discussão sobre as bases pedagógicas adequadas ao seu desenvolvimento

Um comentário:

  1. Muito boas essas considerações, principalmente para nós mães e educadoras. Parabéns pelo seu trabalho e mantenha contato; estou iniciando em pedagogia e seria muito bom trocar experiências.
    Sorte e sucesso!

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